Introdução: O cateter de duplo J é utilizado para manter a drenagem de urina do rim até a bexiga, que viabiliza a permeabilidade do trato urinário diante de situações de obstrução, manipulação dos ureteres ou nos pós-operatórios de cirurgias das vias urinárias.
A implantação desse dispositivo, para uso a curto ou longo prazo, é um dos procedimentos intervencionistas urológicos mais comuns. Entretanto, sua permanência podem provocar complicações como dor, hematúria, infecção, fragmentação, calcificação, entre outros.
O objetivo deste trabalho é relatar a ocorrência de complicações associadas à permanência equivocada do duplo J.
Relato do Caso: Paciente do sexo masculino, 40 anos, admitido com relato de dor lombar intensa à esquerda, associada a hematúria.
Na história pregressa, alega ter rim único desde a infância. Manteve acompanhamento urológico no estado de São Paulo, onde relatou ter implantado cateter Duplo J em rim esquerdo em 2019, porém perdeu o seguimento e não retornou ao serviço para retirá-lo.
Ao exame físico apresentava dados vitais normais, sinal de giordano positivo a esquerda. Palpação abdominal indolor.
A Tomografia de Abdome e Pelve evidenciou formação hiperdensa no terço médio do sistema pielocalicinal medindo 1,7 x 1,2 x 2,0 cm e imagem ovalada hiperatenuante no interior da bexiga medindo 3,2 x 2,0 x 1,4 cm, com mobilidade à mudança de decúbito. Trajetos ureterais livres.
Visualizado em topograma, que as imagens identificadas poderiam corresponder à calcificação das extremidades do duplo J implantado anteriormente.
Optado por encaminhar paciente para abordagem cirúrgica. Realizado exploração renal e vesical por cirurgia aberta. Encontrado duplo J fragmentado, com as extremidades calcificadas. Não foram encontrados fragmentos do dispositivo no trajeto ureteral. Implantado novo cateter duplo J e mantido cateterismo vesical de demora.
No pós-operatório, evoluiu com função renal preservada, sem necessidade de diálise ou outras complicações.
Discussão: O esquecimento do cateter duplo J é uma complicação recorrente, principalmente em países de baixo nível sócio econômico, devido à má adesão, ao desconhecimento do paciente da presença do cateter ou da necessidade de sua retirada.
A fragmentação do duplo J é uma complicação relativamente incomum, ocorrendo em 0,3% a 10% dos pacientes. Já a incrustação e formação de cálculos foram observadas em 26,8% quando retirado antes de 6 semanas e chegou a 75,9% quando mantido por mais de 12 semanas.
A escolha pelo melhor procedimento para tratamento das complicações relatas ainda é controverso, sendo esta individualizada, respeitando-se fatores como a situação clínica do paciente, os procedimentos endourológicos disponíveis e os recursos financeiros envolvidos.
O uso do cateter duplo J é de grande utilidade no campo da urologia. Entretanto torna-se necessário evitar complicações, sendo importante a educação do paciente e o seguimento rigoroso para a retirada no período de tempo recomendado.