INTRODUÇÃO: O diário miccional (DM) é uma ferramenta importante na avaliação de crianças com disfunção do trato urinário inferior (DTUI) e enurese pois permite traçar o perfil da função vesical e caracteriza-se por ser um método simples, não invasivo, de baixo custo, isento de complicações, que melhor reproduz os hábitos miccionais. Referências importantes como frequência miccional, volume miccional máximo (VMMax), volume miccional médio (VMMed) e volume noturno (VN), são facilmente extraídas do DM e são dados valiosos no diagnóstico e acompanhamento dessas enfermidades. Tomar nota de todos os episódios miccionais e de ingesta hídrica exige muito trabalho dos pais e o DM geralmente não é realizada adequadamente. Recentemente, a Internacional Children’s Continence Society (ICCS) reduziu o período do DM de 3 para 2 dias. Além disso, estudos em adultos especulam a forte associação do VMMax obtido no DM sendo o melhor valor associado com o forte desejo miccional de estudos urodinâmicos, correlação ainda pouco documentada em crianças. O padrão ouro adotado pela ICCS para avaliar à Capacidade Vesical Esperada (CVE) é de acordo com a idade, obtida pela formula CVE(ml) = [(idade (anos) + 1) x 30]. OBJETIVOS: Comparar os dados obtidos no DM entre crianças com DTUI e enurese, avaliar se um dia de anotação do DM seria suficiente para orientar o tratamento e avaliar a correlação do VMMax e do maior volume urinado com a fórmula da CVE da ICCS. MÉTODOS: Crianças de 5 a 14 anos com bexiga hiperativa (BH) e enurese monossintomática primária (EMP) foram orientadas a realizar um DM de três dias como parte de sua avaliação. Os dados obtidos do DM foram avaliados para o primeiro dia (1D), os dois primeiros dias (2D) e todos os 3 dias (3D) e comparados de acordo com o volume máximo de micção (VMMax), volume médio da micção (VMMed), frequência e volume noturno (VN) que inclui o peso da fralda + mais o primeira micção do dia. RESULTADOS: Foram incluídas 98 crianças com 8,23 ± 2,26 anos (53% do sexo masculino). Destes, 59 tinham EMP e 30 BH. VMMed, frequência e VN foram semelhantes, independentemente de quantos dias os episódios miccionais foram registrados (p = 0,13; p = 0,96; p = 0,36, respectivamente). Somente o VVMax foi maior em média 23 ml em 2D (202,2 ± 73,3 ml) em comparação com 1D (179,2 ± 76,5 ml) (p <0,01). Quanto a correlação do VMMax e CVE observa-se que o VMMax corresponde a 68% da CVE em crianças com EMP, enquanto que em crianças com BH é de 70%. Na avaliação do VMMax com o maior volume urinado no dia, incluindo a primeira miccção, em 57,6% dos enuréticos, o maior volume urinado é o VMMax, enquanto que nas crianças com bexiga hiperativa, em 66,6% o VMMax é maior volume urinado. CONCLUSÕES: Embora o VMMax tenha sido menor em um pequeno volume no 1D, acreditamos que um 1 dia de DM é suficiente para avaliar essas crianças, e a fórmula da CVE proposta pela ICCS superestima a capacidade vesical da criança.